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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ontem, hoje e sempre

Frederico Araújo Mesquita


O silêncio! De repente, o ecoar dos tambores: tum-tum-tum. A harmonia perfeita – tarol, tamborim, chique-chique, trompete etc. – chama os foliões pra brincar. Os instrumentos misturam-se às vozes entorpecidas de felicidade. “Ô balancê, balancê”, é o bloco na cidade pedindo passagem. Tradição, alegria e amizade. O cortejo abre alas e contagia quem passa pelas ruas feitas de pedras e histórias. A folia verdadeira começa às cinco da manhã de sábado, com o tradicional cortejo dos Mal Dormidos.
As inesquecíveis marchinhas de Lamartine Babo, Ary Barroso, Chiquinha Gonzaga, Braguinha e tantos outros, são relembradas num pulsar de alegria e felicidade. “Quanto riso. Oh quanta alegria. Mais de mil palhaços no salão.” Crianças, jovens e idosos se misturam na festa da integração e da paz. Tem aqueles que dançam sem parar, outros que acompanham mais timidamente, mas todos com o mesmo brilho no olhar e a certeza de que podemos ser felizes. Ontem, hoje e sempre.
Ao final do trajeto, cada grupo segue um rumo diferente que pode ser um café na padaria, um banho de cachoeira ou simplesmente a volta pra casa e a espera do próximo rufar dos tambores. Longe da parafernália eletrônica que solta um ruído esquisito e faz mais barulho que harmonia, nossos blocos continuam resgatando o velho e bom carnaval de rua. A próxima concentração é no domingo com o Suvaco de Cobra, recém-criado a partir da união dos amigos Adriano, Eduardo e Leandro.
O bloco, que completa dois anos, reuniu-se durante cinco horas para apresentar além das tradicionais marchinhas, muito samba de raiz e até um rock mineiro improvisado do 14 Bis que levantou o astral e colocou os foliões pra dançar a Linda juventude. E seguindo o ritmo do êxtase carnavalesco, os músicos saem tocando sob os paralelepípedos reluzentes de esperança. “A gente se embala, se embola, se enrola, só pára na porta da igreja. A gente se olha, se beija, se molha de chuva suor e cerveja”.
O Suvaco de Cobra surgiu para fazer brotar na alma e no coração de quem gosta do verdadeiro carnaval a vontade de manter acesa a chama da alegria. E revivendo o antigo Festival de Música Carnavalesca (FEMUCA) criou suas próprias canções, através dos músicos Lamartine Tavares e Leandro Garcia. Expondo a criatividade e valorizando o que nossa terra tem de melhor: a arte.
Este carnaval surpreendeu pela força dos blocos Mal Dormidos e Suvaco de Cobra, demonstrando que a verdadeira folia tem sua vez e deve ser valorizada e respeitada. O exemplo maior veio na terça-feira quando os dois blocos mostraram o verdadeiro sentido da festa: a integração social. Unidos num cortejo (curto, porém inesquecível) animaram o último dia de folia clamando por um momento de harmonia. E porque não imitar São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, onde mais de 50 mil pessoas brincam somente ao som das marchinhas? Então, viva o verdadeiro carnaval, viva o bloco Mal Dormidos, viva o bloco Suvaco de Cobra, viva a criatividade!

(Recebido em 31 de março de 2005)

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