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sábado, 26 de junho de 2010

Acho muito saudável o modismo de nus masculinos em certos clubes para mulheres. O triste é que não fiquem completamente nus. Porque, afinal, o que há com o "pantaleão", ou "ferramenta", ou "cana", ou "camanho", ou "ponteiro", o que há com ele que não pode ser visto? Nestes tempos pestilentos, eu, "minha gente", saio correndo de alguém me mostrar o dito-cujo. Com sessenta e dois anos de idade também duvido que alguém me mostre algum. Mas é sempre profícuo, para uma fantasia completa, projetar o cara inteirinho. A cabeça de cima, o nosso valioso pré-frontal, pode ser cortada para esse tipo de fantasia. Os acéfalos são até mais estimulantes. Os bossa-gorilões. Já pensaram que tedioso uma fantasia sexual com o Oppenheimer ou o Albert, por exemplo? Haja neurônios. Bem, então, sem a cabeça de cima, tudo bem. Mas todo o resto (!) é importante: dorso, omoplatas, cintura, ancas, nádegas, e aquilo tudo lá de cima que nesse instante também podemos chamar de "envernizado", ou "coluna do meio", na sua mais nova sinonímia decorrente da loteria esportiva (consultar o dicionário de Mário Souto Maior). Importantíssimo. Vejamos: você está ali deitada, projetando aquele cara apolíneo, e vai descendo o olhar, descendo, descendo e, de repente, o susto, aquela "bimbinha", aquela "gunga", aquela "bilola". Que maçada! Tem que começar tudo de novo. E talvez você tenha até que modificar o seu próprio conceito de eficiência, porque, quem sabe, se um nem tão espadaúdo, mais magrinho, menos coxudo, glabro, te faça uma boa surpresa. Por toda essa ginástica mental, às vezes muito cansativa, é que seria criterioso o nu masculino total nesses clubes de agora. O cara já vem pronto. É só ter boa memória. E se você saiu mentindo que precisava visitar tua amiga no hospital, e há um marido ou um antigo amante ressonando na tua cama, ele vai se deliciar com a tua inesperada iniciativa, e vai até perguntar:


O que foi? Você parece aquela outra de antes...
Ah, fico tão cheia de vida quando vejo gente doente....
Não diga... Por que?
Porque a vida acaba depressinha, e morto não transa, né bem?
Pois então vá. Todo dia, querida. Te fez bem.

E você irá a cada noite toc toc toc, olhar aquele cara todo nu, aquele que você escolheu de "pantaleão", ou "cana", ou "camandro", ou "ponteiro", enfim, de estrovenga perfeita, para o conforto, o excelente rendimento, o puro gozo da tua fantasia. Muito boa noite, senhoras.

Hilda Hilst, in Cascos & Carícias & Outras Crônicas

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