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terça-feira, 17 de agosto de 2010


"Se existe uma coisa boa da maturidade é dar importância apenas para o que é importante, enquanto que na adolescência a gente faz drama por nada."
(Na minha família ou na sua?)

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"Se alguém mata uma pessoa, e consegue escapar da polícia, mantendo-se fora do alcance da lei por um longo período, o crime prescreve. Vinte anos depois do delito cometido, fica extinguida a punibilidade do criminoso por o Estado não tê-lo julgado e condenado em tempo hábil. Agora pense bem: se até a Justiça admite que depois de os ânimos serenarem ninguém precisa mais de castigo, talvez a gente também devesse suspender a pena daqueles que cometeram crimes contra o nosso coração.
Mágoas entre pais e filhos, por exemplo. Não tem nada mais complicado do que família, você sabe. Amor à parte, os desentendimentos são generalizados, e às vezes uma frustração infantil segue perturbando a gente até a idade adulta. Seu pai nunca lhe deu um abraço? É um crime fazer isso com uma criança, mas é preciso prescrevê-lo. Vinte anos depois, não dá para continuar usando essa justificativa para explicar por que você usa drogas ou por que não consegue ser afetuoso com os outros. Cresça e perdoe.
Você jurou que nunca mais iria falar com aquele seu amigo que lhe dedurou no colégio? Eu também acho que deduragem é falta de caráter, e você teve toda a razão de ficar danado da vida. Mas quanto tempo faz isso? O cara agora está jogando futebol no seu time, tem sido um companheirão, e você segue não baixando a guarda por causa daquela molecagem do passado. Releve e chame o ex-inimigo para tomar uma cerveja, por conta dos novos tempos.
Dureza, agora: ele foi o amor da sua vida. Chegaram a noivar. Você já estava comprando o enxoval quando o cara terminou tudo. Por telefone. Não deu explicação: rompeu e desligou. Na semana seguinte foi visto enrabichado numa bisca. Você deseja ardentemente que ambos caiam numa piscina lotada de piranhas famintas. Apoiado. Mas faz quanto tempo isso? Você já casou, ele já casou, aquela bisca não durou nem duas semanas. Por que ainda fingir que não o vê quando o encontra num restaurante? É bandeira demais ficar tanto tempo magoada. E a tal da superioridade, onde anda? Dê um abaninho pra ele.
Se quem estrangula e degola recebe o perdão da sociedade depois de duas décadas, os pequenos criminosos do cotidiano também merecem que a passagem do tempo atenue seus delitos. Não cultive rancor. Se não quiser mais conviver com quem lhe fez mal, não conviva, mas não fique até hoje armando estratégias de vingança. Perdoe. Vinte anos depois."
(O tempo perdoa tudo)

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"O egoísmo tem fermento: cresce conosco. Queremos só para nós, seja o bife ou a herança. Sem essa de que o que é meu é teu. Tudo o que se reparte fica menor."

"A dor da perda, a dor de fracassar, a dor de não corresponder a uma expectativa, a dor de uma saudade, a dor de não saber como agir, de estar perdida, instável, de ter dúvidas na hora de fazer uma escolha, todas estas dores, que parecem pequenas para quem está de fora, nos acompanharão até o fim dos nossos dias. Elas não passam."
(Nada passa)

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"Por mais que já tenhamos amado e odiado, por mais que tenhamos sido rejeitados, descartados, seduzidos, conquistados, não há experiência amorosa que se repita, pois são variadas as nossas paixões e diferentes as nossas etapas, e tudo isso nos torna novatos.
(Os virgens)

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"Quem não sabe ficar sozinho não pode casar, sob pena de transformar o matrimônio num presídio para dois."

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"Ter filho não é missão. É opção."
(Licença paternidade)

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"Independência é aceitar a si mesmo antes da aprovação alheia. É defender a própria verdade e ter humildade para mudar de opinião caso seja surpreendido por melhores argumentos. Ser independente é preferir ir ao cinema com alguém, mas não perder o filme por falta de companhia. É vibrar quando lhe abrem um champanhe, mas não deixar de comemorar sozinho se a sua alegria basta para o brinde. Ser independente é fazer tudo o que se gosta junto de quem mais se gosta, incluindo a si mesmo."

"O Brasil precisa despertar, nem que seja de novo no grito. Precisa aproveitar o sete de setembro para refletir e não para ficar assistindo a sofríveis paradas militares. Precisamos de outros motivos para nos orgulhar do país, além das parcas vitórias no esporte. Se nisso se resume nosso patriotismo, continuaremos vivendo essa independência duvidosa, em que cada brasileiro, isoladamente, vale muito pouco.
(A indenpendência de cada um)

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"Razão e emoção são dois planetas que não habitam a mesma galáxia. Você SABE que sua dor é superável, você SABE que amanhã vai encontrar um novo amor, você SABE que é uma felizarda por ter saúde, família, um teto pra morar, mas você não SENTE assim. E o sentimento é poderoso. Comanda-nos. E a gente sucumbe. Feito um avião caindo do céu, feito refém de um assalto do coração."
(A dor dos outros e a nossa)

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"Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, quem não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas quatorze polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso nãp é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parte da população.
Morre lentamente quem passa os dias se queixando da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
(A morte devagar)

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"Você pode dizer que gosta de uma pessoa, até mesmo que a adora, e isto não configurar um compromisso. Mas amar é outra história. O amor não é um sentimento efêmero, semanal. Não ama-se e desama-se como quem troca de roupa. O amor tem caráter de permanência. E num mundo de múltiplas possibilidades, de ofertas de amor em cada esquina, de ficação em festas e relacionamentos virtuais, quem vai querer se amarrar pela palavra?"
(Eu te amo)

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"A paixão turbina o coração, acelera a corrente sanguínea e irriga os olhos, porque a gente chora à beça. Faz perder peso, sim. Não conheço dieta mais eficiente. A paixão cristaliza o tempo: parece que as horas não passam até estar com ele ou ela. Aí estamos com ele ou ela e as horas voam, não é justo. A paixão corrompe nosso juízo, trapaceia a realidade. Ainda assim, melhor uma paixão do que nenhuma. Reprises de seriado na tevê não me fazem desejar ficar bonita e sedutora, mesmo que depios eu borre toda a maquiagem me desaguando por ele desmarcou o encontro cinco minutos antes da hora. Bem-vinda seja uma paixão comedida. Aos inimigos, as avassaladoras."
(Os perigos da paixão)

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"Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos à flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, é o pêlo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta,  é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta,  é o orgasmo, a gargalhada, o beijo,  é o que  desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar,  você é o desprezo pelo que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá,  você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reivindica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.
(Você é)

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"Vip são essas mulheres que têm três filhos naturais e ainda adotam mais 11, alguns deles deficientes físicos ou portadores do vírus HIV, e mesmo ganhando uma miséria por mês conseguem alimentar e vestir todos eles. Vip é quem presta serviço voluntário, não uma vez a cada ano bissexto, mas de forma permanente e consciente, ofertando seu conhecimento e seu tempo para dar nova perspectiva à vida dos outros. Vip é quem tem um compromisso consigo mesmo, o de alcançar suas metas pessoais, mas, ao mesmo tempo, dá o seu recado ao mundo, já que o mundo precisa deste tipo de toque mais do que de carisma."
(O cego do Everest)

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"Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro.Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo."
(Sentir-se amado)

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"Amor não é medicamento. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará, e, caso o faça, vai frustrar sua expectativa, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza, ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima."

"Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem. Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa."
(Amor e perseguição)


NON-STOP: Crônicas do Cotidiano
Marta Medeiros
Porto Alegre: L&PM, 2009 - 7ª ed.


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