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sábado, 30 de outubro de 2010

TAMANDUÁ - ITAPECERICA

O maior dos meus amores

Célia Lamounier de Araújo



Cadê o galo, as galinhas e as frutas?
Procurei pelos quintais e não encontrei mais.

O pomar da minha infância, a pinguela do pastinho,
o porão do palacete, a despensa farta, o forno na casinha
do quintal, o galinheiro, a festa das goiabas, laranjas,
jabuticabas, o lagarto, as abelhas (que susto!) e lá no alto
do pastinho o curral, as vacas. Na beira do Rio Vermelho,limpinho, limpinho, a caverna do ouro (que ouro?) das estripulias.

Cadê as vacas, na beleza da verde pastagem?
Procurei pelas estradas e não encontrei mais nada.

O curral da minha infância, os cafezais, o cantar das
seriemas,o pasto de araçás e gabirobas, o milho assado,
as correntes no pneu da jardineira, a máquina de "fazer"
arroz, as pastorinhas passeando na fazenda Diniz, o monjolo,
e aqui nas ruas, lá em baixo o matadouro (ponto final)
das vacas que assustavam a todos, uma entrou
no correio (lembra?) na tentativa de voltar aos pastos.
E o bezerrinho xereta, filho da Malhada, se perdeu no rio.
Não tem mais a música do carro de bois, nem porteiras tantas,
para abrir, só um canto ao longe de um alegre bem-te-vi.

Cadê os meninos fazendo algazarra, pulando maré?
Procurei nas ruas e não encontrei mais.

Os meninos e as meninas andam crescendo depressa demais,
pulando as etapas. O tempo hoje é curto e não sabem brincar
com pedrinhas, cirandas, bonecos de panos (vovó, cê tá doida?
De panos?) costurar roupinhas, juntar embondos, pique de
esconder, cantar serenatas, catar bolinhas de gude,
pagar prendas, dar gargalhadas, ficar de castigo (só ficar
é muito melhor) sem ligar o rádio, para estudar.
Hoje o castigo é sair do computador, não assistir a TV.
É o progresso.
Mas que progresso é esse que fecha as pessoas
e retira a beleza de andar e conversar?

Cadê a festa dos missionários, dos capuchinhos?
Procurei nas praças e ninguém sabe dizer.

De verdade mesmo, ninguém se lembra disso,
será que existiu mesmo? Nem padre usa mais batinas,
nem freiras existem (quase) aqui foram-se.
Mas eles vinham de ano em ano e era uma festa.
Para ensinar catecismo, os dez mandamentos, mentir é pecado,
amar só depois de casados (aqui no Brasil?) e os nobres
políticos hão de ser respeitados, fazem testamentos
e doações, cheios de ideais trabalham, trabalham,
sem nenhuma mesada (tá delirando, vovó? Posso rir?).
Verdade, é o que sempre ouvi.

Cadê a música, a orquestra, as procissões,
o sino tocando e chamando?
Procurei...
E pelo menos isso, nesta minha terra, encontrei!

Os filhos voltam, os amigos chegam, o povo se
encontra nas datas festivas. Nas praças e ruas,
nas casas e sítios, todos se agrupam, trazendo alegria.
Cumpadre, padrinho, a benção meu filho...
Que a vida é uma roda e na volta que dá, sempre traz
mais um dia; é hora de almoçar. Sá dona, ponha na mesa
o franguinho, a couve e o angu... E mais lenha no fogo
(não, não é isso mais não!) traga cerveja e carvão
que o churrasco já vai começar, tá cheirando,
e não tem hora de acabar...
Abaixa esse som ai, que eu gosto é de conversar.

De qualquer forma, passa o tempo, passa o boi,
passa a boiada (num passa mais não) e eu
estou aqui calada (calada, vó? Cê escreveu tanto!)
pensando no meu sonho de faculdades para o meu torrão
(de açúcar?) talvez sim... Torrão natal de açúcar...
Tamanduá gosta de Formiga, formiga gosta de açúcar
e açúcar lembra uma pedra
(Mãe, me dá uma pedrinha de açúcar?)
e a pedra hoje é ITA... Itapecerica, de ontem, de agora,
com todo o seu encanto, com toda a sua paz...

Itapecerica, o maior dos meus amores.





















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