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sábado, 26 de junho de 2010


Turma de rebeldes

Juliana Gouthier


As ações de alguns rapazes "insubmissos estéticos e políticos" incomodou Belo Horizonte, "uma capital profundamente quieta e bem pensante", entre os anos de 1922 e 1925.
Era o Grupo Estrela, de jovens literatos e políticos, que costumava se encontrar no Café Estrela, na rua da Bahia, e, segundo o memorialista Pedro Nava, em seu livro "Beira Mar", ‘polarizado’ por Alberto Campos, Emílio Moura, Milton Campos e Carlos Drummond de Andrade.
Eles passavam "tardes e noites acintosas de bar com cervejadas, anis escarchado, kümmel, conhaque francês, otongim, uísque (...), jantares com vinhaça italiana e francesa" e saíam andando pelas ruas da cidade, "em grupo provocante, rua acima, rua abaixo, rindo da cara de homens graves, fazendo em torno deles danças de comedores de Bispo Sardinha, na Sala de Espera do Odeon, aplaudindo a pontaria para cuspir de que era dotado" um deles.
Eles aprontavam pela noite da cidade vazia e sem policiamento. Ao "depor" sobre as ações do grupo, a maioria voltada contra o poder instituído, Nava conta, entre outras coisas, que eles quebraram "uma por uma as vidraças consulares do comendador Avelino Fernandes", tocavam a campainha da casa dos padres "Redentoristas para irem levar o Santíssimo, os Santos Óleos à Lagoinha, Serra, altos do Cruzeiro, descampados do Calafate", e que chegaram a arrancar, numa noite, cerca de 40 placas, depositando-as na varanda desguardada do Chefe de Polícia.

Mas, apesar de conseguirem "ultrajar a Família Mineira", não se contentavam e continuavam a fazer provocações, desencadeando, em vários momentos uma onda de hostilidade contra eles.
Ainda segundo Nava, aos olhos de uma cidade pacata e conservadora, "aqueles rapazes desrespeitosos, escrevendo em revistas do Rio e depois de São Paulo, fazendo versos sem rima e sem metro, descobrindo pedras no meio do caminho - só podiam ser uns canalhas".
Tudo que acontecia de "malfeito" era atribuído a eles que, como conta Nava, eram chamados confusamente de futuristas e nefelibatas - "expressão exumada dos velhos insultos aos simbolistas e servindo agora para nós que éramos os que andávamos com os pés fora do chão em vez de casqueá-lo solidamente a quatro patas, da praça da Liberdade, ao Bar do Ponto, dando uma paradinha no Conselho Deliberativo (vindo por Bahia) ou no Senado e na Câmara (quem descia João Pinheiro)".

(Jornal Pampulha - 24 de abril de 2010)

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