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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

CARDÁPIO COM SABOR DE MINAS

Por ser cataguasense, eu não vos falo
de mexilhões, tainhas ou garoupas,
de robalos, enchovas ou badejos,
que do mar provêm;
mas de bagres, dourados e traíras,
de ariscos lambaris, ou de piabas,
que os rios têm.

Nem de polentas, mas do angu mineiro,
nem de presuntos, mas do bom torresmo
(ah! quem não gosta de torresmo, quem?!),
das linguiças tostadas, dos chouriços
e dos queijos do Serro - o velho Serro
de Teófilo Otoni... e de queijeiros
também.

Das travessas de frango, das farofas,
do feijão de tropeiro, e desse lombo
(eu disse lombo; vós ouvistes bem!),
de cujos lanhos, cálido, se evola
um penetrante aroma - aquele aroma
que lembra a Casa Grande, e vem de longe:
da infância vem.

Da pinga sertaneja - a cachacinha,
que nem parece pinga, de tão pura
(contém pureza: nada mais contém),
e ganha nomes, como "talagada",
"cura-gogo", "dengosa", "mata-bicho",
e o mais doce de todos, o mais doce:
que é "meu bem".

Das panelas de pedra, que fumegam
nas velhas trempes dos fogões de lenha,
e à mesa vêm,
para servir o arroz - o arroz do brejo
com banana da terra - uma iguaria,
que é tradição em casa de mineiros:
de mais ninguém.
Tendes água na boca... E eu vos pergunto:
- Nesta cidade estranha em que vivemos
(ou morremos, conforme disse alguém),
quem nos daria um tico de torresmo,
ou sequer um martelo de aguardente,
mas torresmo e aguardente de verdade:
quem?


(Enrique de Rezende - Poeta
13/08/1899 - 16/09/1973)

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