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sexta-feira, 4 de março de 2011





Homens, esses obsoletos
Ailin Aleixo


Será mesmo que as mulheres são tão independentes quanto parecem?
Olhe para aquela presidente de empresa, pra prefeita de São Paulo ou pra esta colunista: todas donas de si, independentes, articuladas. Todas colocaram o mundo em seus bolsos e seguiram em frente, firmes, do alto de seus saltos. Nenhuma demonstra desânimo, fragilidade - afinal, bem-sucedidas, bonitas (algumas), do que poderiam reclamar? Relacionamentos não são prioridade em suas vidas: os projetos pessoais são muito mais importantes e grandiosos do que a perspectiva de ter alguém para jantar num sábado à noite. Aliás, os homens vêm se tornando cada vez mais dispensáveis e entendiantes. Excetuando o sexo, temos com as amigas tudo o que poderíamos obter da companhia de um homem, com a vantagem de não precisarmos omitir os pensamentos espúrios e politicamente incorretos em prol de uma atitude elegante. Chegou o tempo em que nos bastamos.
O parágrafo acima é uma grande mentira.
O feminismo certamente foi o responsável por profundas mudanças sociais e comportamentais - é por causa dele que escrevo aqui, numa revista masculina. Por causa do triunfo de seus ideais que estudei, moro sozinha e ainda não casei. Se minhas amigas nunca tivessem queimado sutiãs, provavelmente agora eu estaria em casa tricotando um colete pro meu marido pançudo enquanto cuidava, à beira da insanidade, dos nossos três filhos gordos. Mas o tempo passou, a sociedade mudou, as mulheres já não precisam mostrar os dentes feito feras para fazer o que querem da vida: é só fazer. O problema é que todo esse esforço por libertação deixou um certo rancor residual, uma necessidade insaciável de provar auto-suficiência, um comportamento defensivo e acusatório perante os homens. E, como consequência, formou-se uma geração de mulheres que vagam por aí, carentes e incapazes e pedir carinho, tão poderosas quanto sozinhas.
No afã de repelir tudo o que significaria levar a vida de nossas avós - filhos, casa, cachorro, casamento -, jogamos fora uma parte imensa de nós, algo que nenhuma fogueira de sutiã vai mudar: nossa necessidade intrínseca de receber e dar afeto, poder ser frágil quando a vida é dura, ficar deitada ao lado do homem que se ama e, por que não, cuidar dele quando isso se faz necessário ou desejado. Apagamos isso de nossos registros e substituímos por uma atitude vigilante, pronta pra competir (e, invariavelmente, ganhar), defendendo a qualquer preço a liberdade - que, por culpa de alguma neurose secreta, sentimos poder ser tirada de nós a qualquer instante. Um patológico pavor da busca, que nos faz repelir os ímpetos protetores masculinos como se fôssemos ser amarradas ao pé da cama. Nos tornamos ditadoras neuróticas, tal qual os homens que provocaram nossa ira. Décadas depois, continuamos nos sentindo incompreendidas e solitárias - só que, agora, na margem contrária.
A verdade é que, por detrás da grossa armadura, nosso desejo inconfessável é voltarmos  a ser ternas e perdermos o medo de que isso seja usado contra nós. É não nos sentirmos patéticas por desejarmos, vez por outra, ser cobertas de gentilezas. Tudo de que precisamos é que alguém nos ajude a sair da torre que construímos para nos defender, porque é muito frio aqui em cima.

(Publicado na revista VIP - julho/2003)

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